Os espaços desocupados dentro da cidade normalmente são encarados como situações entre o problema e o potencial. Cabe em parte à arquitetura e ao urbanismo mobilizar esses espaços de maneira qualificada no contexto citadino. Com essas questões em mente, o escritório Vazio S/A propõe a ativação de espaços tidos como residuais na paisagem urbana ou em contextos particulares, apoiando-se na potência que espaços vagos oferecem.
Numa cidade relativamente jovem como Belo Horizonte, as marcas de crescimento e ampliação se fazem perceber pelo mercado imobiliário, com os imensos esqueletos prediais que surgem na paisagem. Esse era o contexto no fim dos anos 1990, quando Carlos M. Teixeira publicou História do Vazio em Belo Horizonte, em que registrava esses espaços e sugeria novas propostas com base na informalidade, impermanência e mutação cotidianos.
Em 2001, Vazio S/A estava fundado, dando continuidade à premissa do livro, e usando o campo da arquitetura como ferramenta de exploração dessas questões. Hoje encabeçado por Carlos M. Teixeira, Daila Coutinho e Frederico Almeida, Vazio S/A possui uma prática diversa, entre projetos tidos como “convencionais” da arquitetura (residências, comércio, desenho urbano) e explorações dentro da própria arquitetura (como concursos e publicações) e com outras áreas (espetáculos cênicos, artes visuais).
Os primeiros projetos após a consolidação do escritório foram justamente a ocupação dos espaços residuais de edifícios semi-construídos. As chamadas “palafitas de concreto” foram ocupadas por espetáculos de teatro pensados entre o Vazio S/A e a companhia cênica Armatrux. A partir daí, os projetos se desdobraram em frentes diversas de atuação.
A característica interessante é que Vazio S/A possui uma abordagem à disciplina da arquitetura que se estende pelos campos de projeto e desenho, mas também da escrita, do texto. Essa dupla atuação retoma o costume moderno de relacionar a prática à teoria específica desse escritório, ou de registrar as impressões que motivam os arquitetos. É uma maneira de espessar o campo de pensamento projetual.
A combinação de todas essas manifestações passa necessariamente pela observação do mundo ao redor, e as relações que se fazem entre ele e a profissão. Ao compreender a potência vinda dos vazios físicos da cidade, o escritório passou a atuar também dentro de um vazio imaterial: o do mercado imobiliário.
Muito se diz a respeito da má arquitetura produzida com objetivos meramente lucrativos, e trata-se de um vácuo que tem a mesma potência de mobilização das “palafitas de concreto”. Assim, Vazio S/A também desenvolve um projeto de projeto e incorporação através da plataforma NovoMorar, que busca contribuir, ao mesmo tempo que questiona, para a qualidade das habitações no mercado imobiliário.
Vazio S/A tem uma atuação antiga e consistente, com participações em exposições desde 1996, que incluem a Bienal de Veneza (2004), a Bienal de São Paulo (2010), Festival International des Jardins 2020, entre outros; e premiações como menção honrosa para o Parque da Juventude Carandiru (1999), a instalação Spiral Booths para o Victoria & Albert Museum (2010), o Concurso Nacional de Arquitetura Centro Administrativo de Belo Horizonte (2014).
Alguns projetos reunidos aqui mostram como é vasta e diversa a atuação de Vazio S/A, confira.